É errado mentir?

A mentira é aprovada. Ex 1:18-20, Js 2:4-6, I Rs 22:21-22, II Rs 8:10, II Co 12:16, Tg 2:25

A mentira é proibida. Ex 20:16, Lv 19:11, Dt 5:20, Pv 12:22, Ef 4:25, Ap 21:8

Descontradizendo

Segundo o dicionário, aprovar tem pelo menos dois sentidos:

1.julgar bom; aplaudir; ter por bem; louvar.

2.consentir em; dar por habilitado; autorizar.

No primeiro caso, está fora de questão Deus aprovar a mentira. Porém, no segundo caso, não há nenhuma contradição dizer que Deus aprovou a mentira, pois todos os textos onde a BDC alega que Deus aprovou a mentira, na verdade foi aprovação à outra atitude relacionada a mentira cometida pela personagem. Vejamos abaixo:

Antes, duas questões:
1. Deus sempre condenou o pecado, e colocou todos eles em Cristo na cruz do Calvário;

2. Deus nos recebe por meio da e não por sermos ou não sermos pecadores. É o ato de fé que nos aprova diante dEle. Pois até mesmo Abraão (o pai da fé) pecou quando mentiu a respeito do estado civil de Sara (Gn 12:12-19); e também Davi mentiu (1 Sm 21:2).

Versículo por Versículo:

Ex 1:18-20 – “Então, o rei do Egito chamou as parteiras e disse-lhes: Por que fizestes isto, que guardastes os meninos com vida? E as parteiras disseram a Faraó: É que as mulheres hebréias não são como as egípcias; porque são vivas e já têm dado à luz os filhos antes que a parteira venha a elas. Portanto, Deus fez bem às parteiras. E o povo se aumentou e se fortaleceu muito”.

O que temos aqui é uma ordem do faraó para que as parteiras cometessem infanticídio. Sua ordem era que, a cada criança nascida, caso menino, as parteiras deviam no momento do nascimento, matar a criança. Assim impedindo inclusive da mãe ver o filho. Porém tais parteiras não agiram assim, elas não matavam as crianças e pelo contrário, as protegiam.

Se você olhar a mentira das parteiras como algo isolado do seu contexto, dará a ela uma proporção maldosa superior ao fato de que se tratava de matar crianças inocentes.

E qual é o mal maior neste caso? Matar crianças ou a parcialidade de uma verdade (“mentira”)?

Provavelmente estas parteiras demoravam para atender as hebréias em trabalho de parto para que houvesse tempo destes nascerem antes delas as atenderem conforme Ex 1:19. Isto não significa que também não seja verdade que de fato chegassem tarde demais como afirmaram ao Faraó.

Outra: Se realmente elas mentiram, as parteiras é que escolheram escolheram mentir. Não temos nenhuma evidência de que Deus mandou elas mentirem. Ao menos o texto não diz nada sobre isso.

Diante disto, concluímos que:

Deus não abençoou Sifra e Pua por terem mentido, mas por terem preservado os bebês do infanticídio. Deus as abençoou pela sua primeira atitude e não porque mentiram ao Faraó.

Js 2:4 – “Porém aquela mulher tomou a ambos aqueles homens, e os escondeu, e disse: É verdade que vieram homens a mim, porém eu não sabia de onde eram. E aconteceu que, havendo-se de fechar a porta, sendo já escuro, aqueles homens saíram; não sei para onde aqueles homens se foram; ide após eles depressa, porque vós os alcançareis. Porém ela os tinha feito subir ao telhado e os tinha escondido entre as canas do linho, que pusera em ordem sobre o telhado”.

Deus mandou Raabe mentir? Não. Ela o fez de livre e espontânea vontade. Foi uma escolha dela mentir aos policiais de Jericó. Porém Deus aprovou a sua atitude de fé ao ajudar os espias e não a mentira que ela contou.

Um exemplo. Digamos que uma pessoa bata na porta da minha casa e desesperada me diga: “-Deixe-me entrar por favor! Tem uma pessoa vindo atrás de mim para me matar”. Então eu a deixo entrar. E logo em seguida chega o o assassino e me pergunta: “-Você viu tal pessoa?”. E eu digo que não. Qual foi a atitude que Deus aprovaria? A mentira ou a proteção da vida?

Certamente Deus aprovaria a preservação da vida e não a minha mentira. Portanto, houve duas ações no caso de Raabe: A primeira foi o ato de proteger os espias e a segunda a de mentir aos policiais. Deus porém, somente aprovou a primeira delas e não a mentira.

Vejam que a aprovação de Deus não está relacioanada às mentiras de Raabe e das parteiras, mas sim das atitudes de proteção aos hebreus.

I Rs 22:21-22 – “Então, saiu um espírito, e se apresentou diante do SENHOR, e disse: Eu o induzirei. E o SENHOR lhe disse: Com quê? E disse ele: Eu sairei e serei um espírito da mentira na boca de todos os seus profetas. E ele disse: Tu o induzirás e ainda prevalecerás; sai e faze assim”.

Neste versículo se aplica a mesma verdade de Rm 1:21-26

“Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Pelo que também Deus os entregou às concupiscências do seu coração, à imundícia, para desonrarem o seu corpo entre si; pois mudaram a verdade de Deus em mentira e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém! Pelo que Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza”.

Deus não aprovou a mentira ou deu algum tipo de ordenança para que tal espírito mentisse como se a ordem partisse de Seu desejo (de Deus). Ele apenas permitiu em sua Soberania que tal espírito fizesse o que havia desejado fazer em seu próprios planos. Isto apenas demonstra que o próprio Satanás não age livre da soberania de Deus. Tal atitude de Deus em permitir a ação do espírito mostrou o Seu poder comparado ao inexistente poder de outros deuses, como Baal. Deus permite que o espírito minta, justamente para mostrar que quem é Deus de fato é o Senhor. Porém permitir não significa que Deus aprove tal atitude.

II Rs 8:10-14 – “E Eliseu lhe disse: Vai e dize-lhe: Certamente, não sararás. Porque o SENHOR me tem mostrado que certamente morrerá. E afirmou a sua vista e fitou os olhos nele, até se envergonhar; e chorou o homem de Deus. Então, disse Hazael: Por que chora meu senhor? E ele disse: Porque sei o mal que hás de fazer aos filhos de Israel; porás fogo às suas fortalezas, e os seus jovens matarás à espada, e os seus meninos despedaçarás, e as suas pejadas fenderás. E disse Hazael: Pois que é teu servo, que não é mais do que um cão, para fazer tão grande coisa? E disse Eliseu: O SENHOR me tem mostrado que tu hás de ser rei da Síria. Então, partiu de Eliseu e veio a seu senhor, o qual lhe disse: Que te disse Eliseu? E disse ele: Disse-me que certamente sararás.

Onde diz aqui que Deus aprovou alguma coisa? Eliseu disse a Hazael que Ben-Hadade não seria curado. Porém Hazael mente a Ben-Hadade, dando-lhe uma falsa confiança. Hazael seria o rei da Síria e, nesta atitude de mentir ao Rei, ele se firmaria no trono, como profetizado por Eliseu.

Eliseu disse que Ben-Hadade não sararia e este de fato não sarou, morrendo. Hazael, com sua mentira, reinou na Síria e trouxe muitos problemas à Israel.

Quem mentiu foi Hazael e nada no texto diz ou implica em "aprovação". Simplesmente Deus dá uma visão a Eliseu de que Hazael reinaria na Síria e complementa que Ben-Hadade não sararia. Hazael decide mentir ao rei, assim, conseguindo o trono.

II Co 12:16 - "Mas seja assim, eu não vos fui pesado; mas, sendo astuto, vos tomei com dolo.

Nossa! O que é que tem a ver astúcia com mentira? Leiam todo o contexto e vejam se Paulo em algum momento enganou os corintos. Ele disse que em nenhum momento lhes foi pesado e buscou ser astuto nisso, ou melhor estratégico, e não um mentiroso. Astúcia, neste contexto, significa que ele foi estratégico para com os Corintos.

Vocês acham que Paulo, querendo evangelizar os corintos, diria que estava sendo fingido com eles? Que estava mentindo pra eles para conseguir o que ele queria?

Alegar isso é fazer com que o texto diga o que ele não diz. Esta é a idéia da BDC.

Tg 2:25 - "E de igual modo Raabe, a meretriz, não foi também justificada pelas obras, quando recolheu os emissários e os despediu por outro caminho?

Que obras? Sua mentira ou o fato de ter escondido os espias? O próprio texto diz: "...pelas obras ... quando recolheu os emissários e os despediu por outro caminho". Tiago não diz que a mentira de Raabe foi a razão dela ser justificada, mas sim o ato de proteção que ela teve com os hebreus. Isto é forçar o texto a dizer o que ele não está dizendo.

Conclusão

Vemos que, nos textos alegados pela BDC onde Deus, o Senhor, aprova a mentira, na verdade são puramente textos mal interpretados, o qual a BDC quer nos fazer ler o que o texto não quer dizer.

Portanto, não há contradição.